Porque você foi o único a quem nunca escrevi nada, te dedico
hoje minhas lembranças como se fossem velhos sonetos esquecidos no fundo de uma
gaveta. Consagro a ti a noite sem lua,
escura, fria, profunda, onde meus medos e anseios passeiam, se multiplicando
enquanto tremo angustiada! Te entrego meus banhos de mar, onde, louca, quis
mergulhar e ser tragada pelas ondas, num anseio profundo e sincero de ser
inundada por vidas jamais vividas. Faço tuas minhas orações, tão cheias de esperança
e de ardor; tão plenas de Deus, e do
infinito, viajando pelo tempo, elevando minha alma.
Por nunca, meu amor, ter escrito uma linha sequer pra você,
que foi e sempre será o único a me conhecer, a saber acariciar meus cabelos, a
compreender meus olhares e minha fúria; é que te entrego meu suor das noites
transpirantes que nunca tivemos, daqueles momentos que nunca vivemos, pois
terno era nosso querer, inocentes eram
nossas mãos, e minha boca nunca havia pronunciado certas palavras, nem meu
corpo havia recebido outra pele.
A você, meu amor, amigo, querido! Ofereço todos os raios de
sol que pousaram sobre meu rosto,
aquecendo minhas virtudes, dourando minha pele, me fazendo sorrir de forma
simples e sincera.
E porque, e somente porque, você foi o único a me olhar por
inteiro, te dedico todos os amores vividos depois da tua aparição, todos os
olhares compartilhados, sonhos despedaçados, lágrimas secas e corações
partidos.
Te dedico, meu eterno namorado, minhas lutas diárias, meus
momentos de contemplação, meus banhos de chuva, a fruta comida ainda no pé! Te devoto
meu navegar nesse mar revolto, do qual nada sei, nada temo, nada espero, pois
sou apenas um resto de luz pousada nessa terra, apenas uma fina lâmina a cortar
o espaço, sou, meu eterno amado, simplesmente o que restou daqueles dias. Sou o
frio, a espera, a letra ainda não escrita, a palavra perdida no abismo de
lábios entreabertos.
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