sábado, 21 de novembro de 2009




Eu pretendia que fosse lindo

Como uma noite cheia de estrelas cadentes

A noite é densa, e as estrelas se foram

E eu estou aqui segurando minhas próprias mãos.

Eu pretendia que fosse solto

Como fitas ao vento: solto e colorido

Seria belo como soltar pássaros no céu

Mas no fim não havia pássaros...

Eu só queria tocar sua alma

Com a ponta dos meus dedos

Mas só encontrei o vazio

De promessas vãs...

Eu pretendia que fosse doce

E o que me mata, mais que o meu amor

São essas minhas pretensões

Eu pretendia que fosse pra sempre

Mas simplesmente foi.

domingo, 18 de outubro de 2009

ÚLTIMA LEMBRANÇA - Autoria: Luiz Menezes - Interpretação: Os Fagundes


Eu hei de amar-te sempre, sempre além da vida
Eu hei de amar-te muito além do nosso adeus
Eu hei de amar-te com a esperança já extinguida
De que meus lábios possam ter os lábios teus.

Quando eu morrer permita Deus que nessa hora
Ouças ao longe o cantar da cotovia
Será minha alma que num canto triste chora
E nessa mágoa o teu nome pronuncia.

Eu viverei eternamente nos cantares
Dos pobres loucos que dos versos fazem o ninho
Eu viverei para glória dos pesares
Onde quase sucumbi nos teus carinhos.

Eu viverei no violão que a noite tomba
Ante a janela da silente madrugada
Eu viverei como uma sombra em tua sombra
Como poesia em teu caminho derramada.

Pois nem o tempo apagará nossos amores
Que floresceram de ilusão febril e mansa
Quando eu morrer, eu viverei nas tuas dores
Mas te levando em minha última lembrança.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009




O céu se levanta num azul cristalino

Eleva-se além dos desejos

Enquanto a terra continua fecunda,

Faz crescer a grama de esmeralda

E as árvores impassíveis.

O campo adiante se estende num tapete

Por onde os pássaros desfilam.

Os homens aram o solo,

Pacientemente executam sua tarefa

Sabendo que não se pode apressar a vida.

Os animais pastam,

Puramente vivem.

Ontem e amanhã,

Simples conseqüências do agora.

Todas as coisas estão perfeitas

Nada aqui se preocupa,

Tudo já está explicado

Peças encaixadas.

E cada qual cumpre seu momento.

sábado, 8 de agosto de 2009



É tanta calma,

Tanta cor,

É uma experiência tão rica em detalhes

Você preenche todos os meus sentidos

E acabo por perceber melhor todo o mundo ao meu redor...

Não apenas você, sinto com mais intensidade o chão, o ar, os lençóis a me tocar;

Você acorda todo o meu corpo

E então desperto melhor pra tudo mais...

sexta-feira, 17 de julho de 2009




Um coração pobre é o que tenho

Que ama apenas aquilo que não tem;

Um corpo fraco é o que tenho

Que deseja apenas o que está do outro lado da cerca.

Olhos cegos,

Boca seca,

Braços débeis

É o que tenho!

Pois nada do que me cerca me seduz tanto quanto aquilo que está longe.

Caminho sempre em busca da minha sede,

Do meu tormento

Do desejo que incendeia minha mente

Pois nunca me sacio.

Aquilo que desejo, quando toco, se transforma em outro ponto mais além

E assim vou seguindo estrelas,

Cada vez mais longe

Distanciando-me de minha própria essência.

Insaciável, sou apenas um animal.

Em toda água que bebo sinto gosto de sal

E busco mais água;

Em toda fruta que como tem sal

E busco mais fruta.

Nada sou além da própria loucura.

Pobre de mim que não conheço a paz que me rodeia,

Pobre de mim,

Louca,

Morta,

Suja,

Esgueirando-me como um lobo faminto

Em busca daquilo que não conheço

Mas preciso.

quinta-feira, 2 de julho de 2009




É tudo tão novo a cada instante

Não quero perder nenhum detalhe,

Pois pode ser uma tragédia

Ou uma comédia

Quem saberá?

Por isso quero estar de olho em cada ato.

O final é sempre um recomeço,

Uma ópera eterna, um labirinto.

O que haverá na próxima esquina?

Um palhaço saltitante anuncia o próximo número

Neste circo não há espectadores

Somos todos poodles, domadores, engolidores de fogo

Equilibramos esperança e dor

E seguimos na corda bamba.

domingo, 10 de maio de 2009




Eu não sou quem

Eu sou o que, sou onde, quando...

Nada do que eu diga

Te fará compreender

O melhor não é entender

É sentir.

Não preciso de definições

Números e rótulos
Prefiro as respirações,

Pulsações, transpirações...
Prefiro os sentimentos
Sentidos, olhares e sorrisos.

Prefiro as sensações...

Pra me conhecer de verdade

É preciso abrir o peito para o que vier
Nada de coisas pela metade

Nada de molhar apenas os pés.

Posso brilhar na superfície

Mas meu mundo é mais profundo

Sou mais que epiderme.

As palavras são tão pequenas

Não nos percamos nelas.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Mais uma possibilidade



-->
Mergulho em sua boca
Mas logo volto à superfície.
A realidade me envolve
E você é apenas um lago
Onde molho meus pés e imagino o mar.
É tudo muito novo
E talvez eu me canse logo
Abra os olhos garoto
Porque eu não sou cega.
Vejo muito bem o mundo todo,
E ao meu redor há vários bons motivos
Pra desperdiçar minha noite,
Você é apenas mais uma possibilidade.

domingo, 1 de março de 2009



Eu sou batuque

Do negro

Sou herdeira

Da raça
Da alegria matreira.

Tenho por dentro

Algo de África
Algo que ginga
Algo que incorpora

Algo que ferve.
Atravessei o oceano

Vim da preta

De osso forte

De cor forte

De alma forte.
Tenho ainda a bacia de minha avó,

A boca de minha avó
O nariz,

O formato do corpo

O osso largo.

Tenho algo velho
Feito de palha,
Feito de ouro,

De conquista
E de escravidão.

Tenho de herança as marcas

Da chibata do feitor
Da mordida do sinhô

E da mão da sinhazinha.
Tenho de herança a cor

Não da pele
Mas do movimento das cadeiras.

Vim de uma preta

Um útero depois;
A cor se perdeu,

Mas a alma permanece
E a resistência insiste.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009




É fácil mentir sobre si mesmo
Então... De que servirão simples palavras?
Por acaso se eu me denominar flor
Assim o seria pra você?
Ou se te mostrar um espelho,
Seria eu, atrás do aço, o seu reflexo?
Se cheirar, ter cor e gosto de mel
Serei eu doce pra você?
Ou melhor, se mesmo assim eu te disser
Que sou ácida...
No que acreditaria?
Ou, inversamente, ter cor, cheiro e consistência de veneno
Mas me denominar remédio...
Curaria você?
Posso ter facas sob a maciez da pele
Posso ter nuvens atrás dos muros...
Como você saberá se ficar me olhando de longe?
Ou melhor, como saberá se eu te disser?
Nada podem as palavras contra a verdade dos fatos...