domingo, 1 de março de 2009



Eu sou batuque

Do negro

Sou herdeira

Da raça
Da alegria matreira.

Tenho por dentro

Algo de África
Algo que ginga
Algo que incorpora

Algo que ferve.
Atravessei o oceano

Vim da preta

De osso forte

De cor forte

De alma forte.
Tenho ainda a bacia de minha avó,

A boca de minha avó
O nariz,

O formato do corpo

O osso largo.

Tenho algo velho
Feito de palha,
Feito de ouro,

De conquista
E de escravidão.

Tenho de herança as marcas

Da chibata do feitor
Da mordida do sinhô

E da mão da sinhazinha.
Tenho de herança a cor

Não da pele
Mas do movimento das cadeiras.

Vim de uma preta

Um útero depois;
A cor se perdeu,

Mas a alma permanece
E a resistência insiste.