sexta-feira, 3 de abril de 2009

Mais uma possibilidade



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Mergulho em sua boca
Mas logo volto à superfície.
A realidade me envolve
E você é apenas um lago
Onde molho meus pés e imagino o mar.
É tudo muito novo
E talvez eu me canse logo
Abra os olhos garoto
Porque eu não sou cega.
Vejo muito bem o mundo todo,
E ao meu redor há vários bons motivos
Pra desperdiçar minha noite,
Você é apenas mais uma possibilidade.

domingo, 1 de março de 2009



Eu sou batuque

Do negro

Sou herdeira

Da raça
Da alegria matreira.

Tenho por dentro

Algo de África
Algo que ginga
Algo que incorpora

Algo que ferve.
Atravessei o oceano

Vim da preta

De osso forte

De cor forte

De alma forte.
Tenho ainda a bacia de minha avó,

A boca de minha avó
O nariz,

O formato do corpo

O osso largo.

Tenho algo velho
Feito de palha,
Feito de ouro,

De conquista
E de escravidão.

Tenho de herança as marcas

Da chibata do feitor
Da mordida do sinhô

E da mão da sinhazinha.
Tenho de herança a cor

Não da pele
Mas do movimento das cadeiras.

Vim de uma preta

Um útero depois;
A cor se perdeu,

Mas a alma permanece
E a resistência insiste.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009




É fácil mentir sobre si mesmo
Então... De que servirão simples palavras?
Por acaso se eu me denominar flor
Assim o seria pra você?
Ou se te mostrar um espelho,
Seria eu, atrás do aço, o seu reflexo?
Se cheirar, ter cor e gosto de mel
Serei eu doce pra você?
Ou melhor, se mesmo assim eu te disser
Que sou ácida...
No que acreditaria?
Ou, inversamente, ter cor, cheiro e consistência de veneno
Mas me denominar remédio...
Curaria você?
Posso ter facas sob a maciez da pele
Posso ter nuvens atrás dos muros...
Como você saberá se ficar me olhando de longe?
Ou melhor, como saberá se eu te disser?
Nada podem as palavras contra a verdade dos fatos...

domingo, 14 de dezembro de 2008

Inócuo


Vamos pular, vamos correr

Num mundo onde as dores não existem

Onde não é preciso buscar abrigo

Nas sombras do dia...

Vamos dançar, vamos sorrir

Como aqueles que não têm passado

Como aqueles que não sabem

O que quer dizer amanhã.

Sei que você pode

Sei que você quer

Sei que dentro de você há

Um belo arlequim

E hoje é carnaval!

Dance!!!

Dê-me a mão

Solte seus pés

Abra seus braços

Para o inusitado

Crie, invente, sonhe

Um novo alguém

Para ser, para se deixar

Levar por essa correnteza

Pelas ondas doces

Que embalam os suspiros.

Se lance, sem medo

Esqueça que um dia caiu

Seus joelhos cicatrizaram agora

A dor é apenas uma lembrança amarelada,

Seja, seja pelo menos hoje

O arcano zero

O início,

O fim,

Seu

E se doe.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008



Noite quente,
Transparente
Transpirante.
Soa a melodia de cheiro leve e almiscarado
Que foi pautada pela saudade
E tem um sabor salgado,
Mas que é doce enfim...
E o arrepiar da pele
E o suspirar involuntário
Fazem soar tambores
Que dão ritmo à dança.
Toca e canta nessa ciranda
De pulsar latente
E ritmo oscilante.
Desfaz o nó do peito
Descansa enfim o corpo lasso
Estreita um pouco mais o forte laço
Que une duas cantigas errantes.
E o vestido de perfume
Se espalha pela cidade.



Me perdi no mar

Com os olhos submersos no encanto

Comendo o silêncio

Como a uma fruta madura

Saboreando cada pedaço

Das palavras não ditas.

Me perdi no mar

Presa, solta num par de braços

Meu coração como um cavalo selvagem

Cavalgava em disparada.

O tempo em greve,

O som fresco e quente de um beijo

E uma estrela nasceu.



É preciso talvez mais uma felicidade

Mais uma dor

A dor mais forte que todas as dores.

Quem sabe mais uma surpresa

E um belo final de tarde.

Talvez seja preciso uma nova descoberta

Ou a simples descoberta do que já se sabe.

Uma canção, uma visão

O alazão do tempo...

Não sei.

Talvez um livro, um sonho, um filho

Ou quem sabe a ausência de tudo isso.

Quem sabe uma certa nota adocicada

Ou um profundo amargor.

É preciso talvez apenas um sorriso

A lágrima que nunca caiu.

Quem saberá, ao certo,

O que é preciso para o total conhecimento

De suas esquinas?