
Eu sou batuque
Do negro
Sou herdeira
Da raça
Da alegria matreira.
Tenho por dentro
Algo de África
Algo que ginga
Algo que incorpora
Algo que ferve.
Atravessei o oceano
Vim da preta
De osso forte
De cor forte
De alma forte.
Tenho ainda a bacia de minha avó,
A boca de minha avó
O nariz,
O formato do corpo
O osso largo.
Tenho algo velho
Feito de palha,
Feito de ouro,
De conquista
E de escravidão.
Tenho de herança as marcas
Da chibata do feitor
Da mordida do sinhô
E da mão da sinhazinha.
Tenho de herança a cor
Não da pele
Mas do movimento das cadeiras.
Vim de uma preta
Um útero depois;
A cor se perdeu,
Mas a alma permanece
E a resistência insiste.
Um comentário:
Você notou que este poema pode ser lido em voz alta numa cadência de samba e soar perfeitamente bem aos ouvidos? Se vale uma sugestão o título bom ao poema deveria ser ´´Raízes´´. Continue escrevendo Lia, não cesse de cultivar este seu dom porque ele sempre revela uma grata surpresa.
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