sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Andante



A rua passava pela menina

Deixando suas marcas, aromas e cores.

O mendigo passava,

A mulher passava,

A criança, o cão, o homem sem nome passavam

Todos deixando suas dúvidas

Grandes dúvidas que ela carregava

E suas certezas...

Bem, a menina não tinha certezas.

Passavam pela menina as vitrines

E guardavam seus desejos;

Passavam os carros

Levando a menina para lugares que ela jamais iria.

Passavam as calçadas,

O asfalto, os bueiros,

O lixo dos cantos passava por ela

Que carregava parte da cidade.

A menina levava o resto de sonho do pedaço de jornal,

O resto de fome da comida no lixo,

O resto de vício jogado pela mão descuidada, ainda aceso.

Passavam olhos e seus segredos,

Passavam mãos, pernas, braços, sorrisos e lágrimas.

Toda a cidade passava pela menina

Suas luzes e cinzas;

Dores e restos,

Tudo lhe atravessava os poros;

A sinalização passava e não lhe indicava o caminho,

A estátua passava e não lhe via,

Então a praça passou por ela

E ficou uma flor em seu cabelo.

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