
O dia hoje está aborrecido. O céu cinza parece estar de braços cruzados, e o vento frio que sopra só confirma que algo está fora do lugar, e muito, muito chateado. As cores estão em greve e existe algo levemente irritante nas horas.
Uma palavra, um momento, Um sorriso, acalento, Viver, sonhar, chorar. Um par de olhos, insensatez, Mesmo ocorrido apenas uma vez, Uma imagem a se colecionar.
O que é um grão de poeira?
Depende do ponto de vista:
No chão, quase nada;
No olho, tudo o que existe.
A rua passava pela menina
Deixando suas marcas, aromas e cores.
O mendigo passava,
A mulher passava,
A criança, o cão, o homem sem nome passavam
Todos deixando suas dúvidas
Grandes dúvidas que ela carregava
E suas certezas...
Bem, a menina não tinha certezas.
Passavam pela menina as vitrines
E guardavam seus desejos;
Passavam os carros
Levando a menina para lugares que ela jamais iria.
Passavam as calçadas,
O asfalto, os bueiros,
O lixo dos cantos passava por ela
Que carregava parte da cidade.
A menina levava o resto de sonho do pedaço de jornal,
O resto de fome da comida no lixo,
O resto de vício jogado pela mão descuidada, ainda aceso.
Passavam olhos e seus segredos,
Passavam mãos, pernas, braços, sorrisos e lágrimas.
Toda a cidade passava pela menina
Suas luzes e cinzas;
Dores e restos,
Tudo lhe atravessava os poros;
A sinalização passava e não lhe indicava o caminho,
A estátua passava e não lhe via,
Então a praça passou por ela
E ficou uma flor em seu cabelo.