segunda-feira, 5 de abril de 2010




Desço a rua e a noite vem comigo

Apenas a desesperança preenche os becos vazios.

Em um lugar qualquer, risos cortam a noite

Como facas afiadas

E buscam meus ouvidos

Rasgando o tempo, o espaço,

E outras coisas que um dia fizeram sentido.

São risos de escárnio, quase desesperados

Procuram insanamente demonstrar felicidade

Mas ela vem falsa

Imediata, vulgar.

Não enfeitam os rostos

Também vazios,

Mas retorcem a boca e calam os olhos.

Vejo as flores murchas pelo caminho,

Vejo sombras atrás das cortinas,

Há garrafas vazias sobre as mesas,

E vazios corações

E olhos vazios de horizonte.

Não há mais nada pelas ruas

Além da minha própria sombra

Por um momento me sinto só

Mas logo vejo que não poderia estar melhor acompanhada.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010




Colha o dia de hoje, não confies no futuro!

Não indagues muito: é cruel querer saber que fim nos reservaram os deuses;
Nem fiques consultando os números babilônios.
É melhor simplesmente lidar com aquilo que cruzar o seu caminho.
Pode ser que Júpiter te conceda muitos invernos,
Ou somente este último,
Como expressa agora o mar tirreno ao bater nas rochas.
Sê sensato, bebe teu vinho e abrevia as longas esperanças,
Pois o tempo foge enquanto aqui parlamos.
Colha o dia de hoje – não te fies no futuro!
Podemos sempre ser melhores, basta pensarmos melhor. (Horácio)

sábado, 21 de novembro de 2009




Eu pretendia que fosse lindo

Como uma noite cheia de estrelas cadentes

A noite é densa, e as estrelas se foram

E eu estou aqui segurando minhas próprias mãos.

Eu pretendia que fosse solto

Como fitas ao vento: solto e colorido

Seria belo como soltar pássaros no céu

Mas no fim não havia pássaros...

Eu só queria tocar sua alma

Com a ponta dos meus dedos

Mas só encontrei o vazio

De promessas vãs...

Eu pretendia que fosse doce

E o que me mata, mais que o meu amor

São essas minhas pretensões

Eu pretendia que fosse pra sempre

Mas simplesmente foi.

domingo, 18 de outubro de 2009

ÚLTIMA LEMBRANÇA - Autoria: Luiz Menezes - Interpretação: Os Fagundes


Eu hei de amar-te sempre, sempre além da vida
Eu hei de amar-te muito além do nosso adeus
Eu hei de amar-te com a esperança já extinguida
De que meus lábios possam ter os lábios teus.

Quando eu morrer permita Deus que nessa hora
Ouças ao longe o cantar da cotovia
Será minha alma que num canto triste chora
E nessa mágoa o teu nome pronuncia.

Eu viverei eternamente nos cantares
Dos pobres loucos que dos versos fazem o ninho
Eu viverei para glória dos pesares
Onde quase sucumbi nos teus carinhos.

Eu viverei no violão que a noite tomba
Ante a janela da silente madrugada
Eu viverei como uma sombra em tua sombra
Como poesia em teu caminho derramada.

Pois nem o tempo apagará nossos amores
Que floresceram de ilusão febril e mansa
Quando eu morrer, eu viverei nas tuas dores
Mas te levando em minha última lembrança.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009




O céu se levanta num azul cristalino

Eleva-se além dos desejos

Enquanto a terra continua fecunda,

Faz crescer a grama de esmeralda

E as árvores impassíveis.

O campo adiante se estende num tapete

Por onde os pássaros desfilam.

Os homens aram o solo,

Pacientemente executam sua tarefa

Sabendo que não se pode apressar a vida.

Os animais pastam,

Puramente vivem.

Ontem e amanhã,

Simples conseqüências do agora.

Todas as coisas estão perfeitas

Nada aqui se preocupa,

Tudo já está explicado

Peças encaixadas.

E cada qual cumpre seu momento.

sábado, 8 de agosto de 2009



É tanta calma,

Tanta cor,

É uma experiência tão rica em detalhes

Você preenche todos os meus sentidos

E acabo por perceber melhor todo o mundo ao meu redor...

Não apenas você, sinto com mais intensidade o chão, o ar, os lençóis a me tocar;

Você acorda todo o meu corpo

E então desperto melhor pra tudo mais...

sexta-feira, 17 de julho de 2009




Um coração pobre é o que tenho

Que ama apenas aquilo que não tem;

Um corpo fraco é o que tenho

Que deseja apenas o que está do outro lado da cerca.

Olhos cegos,

Boca seca,

Braços débeis

É o que tenho!

Pois nada do que me cerca me seduz tanto quanto aquilo que está longe.

Caminho sempre em busca da minha sede,

Do meu tormento

Do desejo que incendeia minha mente

Pois nunca me sacio.

Aquilo que desejo, quando toco, se transforma em outro ponto mais além

E assim vou seguindo estrelas,

Cada vez mais longe

Distanciando-me de minha própria essência.

Insaciável, sou apenas um animal.

Em toda água que bebo sinto gosto de sal

E busco mais água;

Em toda fruta que como tem sal

E busco mais fruta.

Nada sou além da própria loucura.

Pobre de mim que não conheço a paz que me rodeia,

Pobre de mim,

Louca,

Morta,

Suja,

Esgueirando-me como um lobo faminto

Em busca daquilo que não conheço

Mas preciso.